Para os pais e famílias
Este guia para Pais pretende reforçar as competências dos Encarregados de Educação, e de forma geral, de todos os adultos para reconhecer e prevenir o Bullying.
Mas afinal o que e é isto do Bullying?
“O bullying é um conjunto de comportamentos agressivos, humilhantes e de exclusão, efetuados de forma repetida e intencional, implicando sempre uma assimetria de poder: as crianças agressoras usam o seu poder (p. ex., a sua força física ou psicológica, estatuto ou o acesso a informação constrangedora) para tentar controlar e prejudicar outras crianças.”
Sabemos que ambos, rapazes e raparigas podem estar envolvidos em situações de bullying mas que existe uma tendência aos comportamentos agressivos verbais e físicos praticados pelos rapazes, enquanto os comportamentos de caracter psicológico e relacional parecem estar mais associados ao género feminino.
É, contudo, necessário sublinhar que o bullying é diferente de lutas ou brincadeiras mais agressivas que ocorrem de forma mais pontual entre crianças, uma vez que, no primeiro existe um pressuposto de que a vítima é mais vulnerável, permitindo ao agressor maior satisfação em provocar dano repetidamente.
E onde é que pode acontecer o Bullying?
Este “pode acontecer dentro ou fora da escola (p. ex., na sala de aula, no recreio, nos meios de transporte ou no caminho de casa para a escola ou vice-versa), noutros contextos (p. ex., ateliê de tempos livres, desporto) ou online (p. ex., em grupos de conversação, blogues ou nas redes sociais como o Instagram®, o Facebook® ou o WhatsApp®).”
Quais os sinais a que devo estar atento?
“Não existe um conjunto de sinais e sintomas específicos de bullying, pois alguns indicadores podem relacionar-se com a fase do desenvolvimento ou dificuldades específicas da criança. No entanto, podemos (leia-se devemos) estar atentos a alguns sinais e sintomas que se observam mais frequentemente”, como:
- As crianças podem manifestar medo, ansiedade, oscilações frequentes de humor, impaciência, zanga, irritabilidade ou tristeza. Os seus padrões de sono e alimentares podem evidenciar alterações;
- Alterações físicas: dores de cabeça ou de barriga, dores difusas, vómitos ou cansaço persistente, sem que haja qualquer causa orgânica que o justifique.
- Dificuldades de atenção e concentração, com um impacto negativo no seu rendimento académico, isolamento e comportamentos de evitamento (p. ex., evitar contextos onde estão os colegas, como uma festa de aniversário, uma visita de estudo ou o transporte escolar) são sinais de alerta importantes.
- Há que estar ainda atento ao aparecimento de nódoas negras ou feridas sem uma explicação coerente; aos materiais escolares que aparecem estragados ou «desaparecem»; pedidos extra de dinheiro ou faltas injustificadas às primeiras ou últimas aulas do dia.
Lembre-se! “As crianças que são vítimas de bullying, muitas vezes, escondem a situação porque sentem vergonha (os rapazes parecem sentir mais vergonha, na medida em que são vistos por muitos adultos como alguém que tem, obrigatoriamente, de saber lidar com este tipo de agressões), e também por medos diversos: medo de retaliações, medo de não serem acreditadas ou apoiadas, medo de serem culpabilizadas ou, ainda, que lhes seja exigida uma reação semelhante («se ele te bate, bate-lhe também!»).”
E se o meu filho/a for agressor/a?
As crianças agressoras são muitas vezes populares e podem ter amigos, ainda que as suas amizades sejam baseadas no medo. Esteja atento aos seguintes sinais:
- Necessidade em exercer poder
- Irritabilidade
- Impulsividade e baixa tolerância à frustração
- Comportamento ameaçador
- Comportamento de oposição e desafio
- Intimidar os outros
- Gabar-se da sua superioridade (real ou imaginária) sobre as outras crianças
- Dificuldade em obedecer a regras
- Fazer batota, mentir e enganar
• Para ajudar a criança agressora…
- Não negue o problema nem minimize a sua gravidade. O bullying nunca é aceitável, não faz parte do processo de crescimento e não passa com o tempo. Ninguém fica mais forte por passar por uma situação deste tipo, nem as vítimas nem quem realiza este tipo de ações agressivas.
- Não acredite em tudo o que a criança lhe diz. As crianças que fazem bullying são, geralmente, manipuladoras e podem construir uma história em que se vitimizam, arranjando uma potencial razão para terem este tipo de comportamentos.
- Controle a sua zanga e converse com a criança de modo tranquilo, de forma a conseguir perceber quais os motivos que a levam a ter este tipo de comportamentos agressivos com os colegas.
- Oriente a criança para assumir a sua responsabilidade e não para justificar os seus comportamentos com aquilo que os outros fizeram.
- Encoraje a empatia. Uma criança agressiva deve ser ajudada a mudar as suas atitudes e comportamentos negativos face aos outros (em muitas situações, estas crianças interiorizam a ideia de que «só são bons a fazer mal» e este pensamento tem de ser alterado).
- Desenvolva um sistema de regras em que os comportamentos adequados são reforçados (use, acima de tudo, o elogio e as atividades extra como reforço positivo) e os comportamentos desadequados têm consequências negativas (retirar privilégios).
- Encontrem soluções de restituição, ações concretas que ajudem a criança vítima a sentir-se melhor e a ser compensada, de alguma forma, pelos danos sofridos.
- Não use o castigo físico. Para além de apenas ser eficaz a curto prazo, gera sentimentos de revolta e não ajuda a criança a interiorizar as regras.
- Passe mais tempo com a criança, dê-lhe atenção e monitorize atentamente as suas atividades e companhias.
Como posso prevenir que isto aconteça?
Todos os adultos (pais/encarregados de educação, professores, psicólogos, outros técnicos) têm um papel muito importante na prevenção do bullying, pois devem:
• Informar e conversar frequentemente sobre este tema e em diversos contextos.
• Ajudar a reconhecer potenciais comportamentos de bullying.
• Explorar as principais preocupações e receios das crianças.
• Escutar e valorizar aquilo que as crianças dizem e sentem.
• Encorajar as crianças a praticarem atividades que gostem e lhes deem prazer, algo que irá ajudar a aumentar a sua autoestima e a sua rede de suporte social.
• Assumir uma posição de «tolerância zero» face ao bullying (em contexto escolar esta questão deve ser uma premissa essencial para os órgãos de gestão — criação de um clima escolar seguro
e contentor).
• Incentivar o pedido de ajuda. Denunciar os comportamentos de bullying e quebrar o segredo contando a um adulto é a única forma de parar a situação.
Como posso saber o que realmente se passa?
“Antes de lidar com o problema, precisa saber exatamente o que está a acontecer. O grande desafio nesta fase de crise é ajudar a criança a desabafar e a partilhar aquilo que se passa, algo que só se consegue através de uma relação próxima, tranquila e empática.”
Questões que ajudam a criança a desabafar:
- O que aprendeste hoje de mais interessante?
- Qual a melhor coisa que fizeste hoje?
- Com quem conversas no autocarro (ou no caminho para a escola)?
- Já te sentaste alguma vez sozinho?
- Alguém chateia, ameaça, chama nomes ou bate a algum colega teu?
- Alguma vez te aconteceu isso?
- Alguma vez fizeste isso a alguém?
- Com quem costumas almoçar?
- Costumas brincar com quem nos intervalos?
- Hoje, com quem brincaste no intervalo?
- Alguém fica fora das brincadeiras porque não o deixam brincar?
- Se isso acontecesse, o que farias?
- Contavas a alguém? A quem?
- Com quem te sentes mais seguro na escola?
Como devo agir se perceber uma situação de Bullying?
• Avaliar o grau de risco — estamos perante uma situação menos complexa e que poderá resolver-se de uma forma mais simples, ou existe um possível e real perigo físico ou psicológico para a criança?
• A criança sente-se confiante e com capacidade para enfrentar o agressor?
• Quem poderá ajudar a criança?
Estratégias que podem ajudar a criança a sentir-se mais segura:
- Ignorar a criança que realiza esses comportamentos e contar a um adulto sempre que uma situação de bullying ocorrer (ou acha que pode vir a acontecer).
- Evitar (principalmente numa primeira fase) situações de encontro com o agressor (p. ex., usar outra casa de banho).
- Identificar «locais de refúgio» (como, por exemplo, a biblioteca, a reprografia ou a papelaria) se for perseguido.
- Andar sempre acompanhada de outras crianças ou adultos.
Texto baseado em:
Agulhas, R. & Amorim, S. (2020). Um por todos, todos contra o bullying – prevenção do bullying em idade escolar. Ordem dos Psicólogos Portugueses
Ligações úteis (entidades, projetos e programas)
Escola SaudávelMente – Ordem dos Psicólogos Portugueses
http://escolasaudavelmente.pt/ Associação No Bully Portugal
Associação Anti-Bullying com Crianças e Jovens
https://www.facebook.com/AABcCJ/ Projeto «Desporto sem Bullying»
http://www.desportosembullying.pt/
Projeto «Stop Bullying» – Amnistia Internacional
Campanha «Dislike Bullying Homofóbico» – CIG
Portal do Bullying
Bullying
Projeto que ajuda famílias, escolas e comunidades a promover a segurança online de crianças e jovens
O Serviços de Psicologia do AE de Barroselas